por
Eduardo Monteiro
How do You Know, EUA, 2010 | Duração: 2h00m50s | Lançado no Brasil em 29 de Abril de 2011, nos cinemas | Escrito por James L. Brooks | Dirigido por James L. Brook | Com Reese Witherspoon, Paul Rudd, Owen Wilson, Jack Nicholson, Kathryn Hahn, Mark Linn-Baker, Lenny Venito, Molly Price, Ron McLarty, Shelley Conn, Domenick Lombardozzi, Teyonah Parris, Tony Shalhoub, Dean Norris e John Tormey.

Comédias românticas estão cada vez mais desgastadas. Parte da explicação se deve às suas próprias especificidades do gênero, que limitam bastante o que pode ser explorado, ou, ainda, à predominância de casais em seu público-alvo, que geralmente vão ao cinema sem a mínima intenção de se ater a detalhes ou pretensão de assistir a algo original (aliás, os clichês e as repetições chegam a ser confortantes para muitos, que entram na sala de exibição com a certeza de que irão gastar bem seu dinheiro). Assim, todos os anos vemos dezenas de comédias românticas idênticas sendo produzidas, frequentemente recorrendo a excentricidades cômicas e às diversas e batidas convenções do gênero. Não é o caso de
Como Você Sabe, que, de modo geral, não apela pra absolutamente nada e revela-se um verdadeiro teste de paciência.
Escrito e dirigido pelo veterano James L. Brooks (
Melhor é Impossível,
Espanglês) o filme acompanha a atleta Lisa (Reese Witherspoon) enquanto esta tenta superar sua saída forçada do time de
softball, ao mesmo tempo que busca estabelecer uma relação com o também atleta Matty (Wilson). Por obra do destino, sua trajetória acaba cruzando com a de George (Rudd), um executivo que passa por maus bocados após ser indiciado por fraudes na administração da empresa de seu pai, Charles (Nicholson). Aos poucos, Lisa e George desenvolvem uma amizade que pode vir a ajudá-los a superar seus maus momentos, mas a relação acaba ganhando um contorno diferente, tendendo a romance.
E o maior problema do filme reside justamente na dinâmica entre o triângulo amoroso. Matty é um personagem machista, arrogante, egocêntrico e esnobe, que não tem o mínimo jogo de cintura para manter um relacionamento sério com uma pessoa e muito menos tato para ajudar alguém a superar um momento difícil. E o que é pior: não consegue disfarçar nenhum desses defeitos. Assim, é impossível entender a insistência de Lisa em continuar o relacionamento com o rapaz que, aliás, começa de forma igualmente absurda: se a princípio a dinâmica da relação é aceitável devido à impulsividade da garota e à fragilidade psicológica em que se encontra, ela torna-se inexplicável assim que, após convidar Lisa para morar em seu apartamento, Matty não consegue sequer liberar espaço em seus armários e gavetas para alocar os pertences da garota e não parece enxergar problemas em lembrar Lisa quem é o dono da casa quando ela toma algumas singelas liberdades. Por outro lado, o ótimo Paul Rudd vive George como um homem que tenta manter a sanidade disfarçando sua preocupação com o processo judicial no qual está envolvido, recebendo apoio apenas condicional de seu pai - mas, mesmo assim, seu rosto se ilumina toda vez que encontra Lisa, que é tratada com respeito e delicadeza, em meio ao nervosismo de cometer alguma gafe.

Assim o longa se limita a acompanhar as idas e vindas de Lisa entre os dois rapazes, e Brooks falha ao usar falas da moça e trilha sonora bonitinha como os únicos elementos que justificam seus constantes retornos à companhia de Matty já que, algumas vezes, nem ele mesmo parece acreditar nessas atitudes da garota. Por outro lado, o diretor-roteirista acerta em outros momentos, como no primeiro encontro de Lisa e George que, conturbado graças aos nervos à flor da pele de ambos, acaba se tornando uma ocasião na qual a simples companhia mútua e silenciosa é suficiente para aliviar as tensões e dar início à proximidade entre o casal. Assim, é interessante que outro ponto abordado amplamente pelo roteiro seja a dificuldade de comunicação entre os personagens, que a todo momento tentam construir diálogos entre gagueiras e meias-palavras - e o uso freqüente de celular ressalta bem essas dificuldades.
Como Jack Nicholson é sabotado por um personagem que não lhe permite mostrar todo o seu talento, o destaque do longa (além de Paul Rudd) fica com a assistente de George, Annie (Hahn) - e não é à toa que as melhores cenas do filme são aquelas envolvendo os dois. Demonstrando uma imensa admiração pelo patrão e um apoio quase incondicional, ela apresenta uma sinceridade admirável e um sofrimento comovente que a tornam um dos personagens mais interessantes do longa. Aliás, a cena envolvendo George, Lisa, Annie e seu marido Al na maternidade revela-se o único momento em que Brooks se aproxima do brilhantismo, fazendo Lisa verbalizar sentimentos de forma natural e tematicamente perfeita - e é uma pena que a narrativa não tenha se encerrado em torno desse evento, se estendendo por mais 20 intermináveis minutos.
Com pouca inspiração para o humor (o único momento que ri de verdade foi em uma piada envolvendo Matty e uma fala escrita em um pedaço de papel) e inconstante na direção (em certo momento, a câmera parece querer tirar George do quadro como se, assim como o personagem, tentasse fugir de todos seus problemas - mas talvez eu tenha extrapolado para tentar justificar a embriaguez de um operador de câmera), Brooks faz um trabalho irregular com um roteiro longo demais para história de menos, culminando em uma resolução que,
como você sabe... não é muito difícil de imaginar. Pode até fugir das outras convenções das comédias românticas, mas dessa não adiantou nem tentar.